Estranhamentos e aproximações
Por que os jovens parecem estar cada vez
mais “rebeldes” e agressivos no contexto escolar? Por que abordagens
tradicionais (onde o professor possui o papel de detentor do conhecimento e de
transmissor) são cada vez mais criticadas e rechaçadas?
O último questionamento é especialmente
inquietante. Afinal, funcionou conosco, não é mesmo? Provavelmente você, assim
como a maior parte de nós, recebeu uma educação bastante tradicional, em aulas
predominantemente expositivas nas quais nossa principal atividade era copiar o
conteúdo repassado pelo professor no quadro, exercitá-lo, memorizá-lo e
devolvê-lo nas avaliações. Crescemos e incorporamos esse cenário tendo o
professor em frente à turma, “professando” o conteúdo. Apesar de os
referenciais teóricos da educação demonstrarem a inadequação dessa metodologia,
em geral, nós professores, na nossa infância e adolescência, adaptamo-nos e
tivemos sucesso nesse tipo de vida escolar. Talvez, de alguma forma, desenvolvemos
estratégias (e/ou “artimanhas”) para torná-la mais produtiva.
Com uma trajetória, sem maiores
conflitos com a escola, é natural termos dificuldades de negar essas raízes
que, em muitos casos, lembramos com carinho.
Por outro lado, ao exercer o papel de
professores, temos outra perspectiva do processo educativo. Teoricamente
incorporamos plenamente os estudos que demonstram a importância do papel ativo
do aprendiz na construção do conhecimento, do diálogo, da aprendizagem
cooperativa e de tantos outros aspectos que permeiam nossos discursos. Mas na
prática... Que dificuldade de abandonar nossa herança! Que vontade de ter em sala
alunos “dos velhos tempos”, mais disciplinados, quietos, prestativos! Talvez,
lá no fundo, exista um desejo de proporcionar aos nossos alunos o mesmo sucesso
escolar que tivemos. E, para isso, tendemos a projetar um caminho semelhante ao
que trilhamos! Difícil dizer o que ocorre na prática de cada um, estamos apenas
lançando hipóteses para mobilizar reflexões acerca dos motivos das aulas
tradicionais ainda predominarem nas escolas de hoje.